quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Para costurar o amor






"Quando Miguel perguntava quem era a sua mãe ou onde morava o seu pai, o avô tossia para um lado, tossia para o outro, arranjava um resfriado, uma dor nas costas e só lhe respondia:

- Ô Miguel, a sua mãe já volta. Daqui a um pouco, ela volta.

Mas a mãe nunca voltava, nunca… Ele desmanchando as rabiolas. Ele olhando no portão. A cada laço que desfazia era uma esperança que se soltava. E ele já tinha reparado: quando as pipas voavam embora, elas voavam para nunca mais.

o avô dizendo:

- Ela já volta…

O relógio dizendo:

- Ela já volta…

… e outra volta e outra volta e foram anos se passando. O relógio faz volta, mas o tempo, não. A latinha velha dando voltas na linha. O avô enlaçando o menino nos braços, dizendo que o abraço era só um ponto que a vida dava para costurar o amor. "

(Rita Apoena)

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