segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

What are you doing the rest of your life?

What are you doing the rest of your life?
North and South and East and West of your life
I have only one request of your life
That you spend it all with me

All the seasons and the times of your days
All the nickels and the dimes of your days
Let the reasons and the rhymes of your days
All begin and end with me

I want to see your face in every kind of light
In the fields of dawn and the forests of the night
And when you stand before the candles on a cake
Oh, let me be the one to hear the silent wish you make

Those tomorrows waiting deep in your eyes
In the world of love that you keep in your eyes
I'll awaken what's asleep in your eyes
It may take a kiss or two

Through all of my life
Summer, Winter, Spring, and Fall of my life
All I ever will recall of my life
Is all of my life with you
(music by Michel Legrand)

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Tema e variações

Sonhei ter sonhado
Que havia sonhado.

Em sonho lembrei-me
De um sonho passado:
o de ter sonhado
Que estava sonhando.

Sonhei ter sonhado...
Ter sonhado o quê?
Que havia sonhado
Estar com você.
Estar? Ter estado,
Que é tempo passado.

Um sonho presente
Um dia sonhei.
Chorei de repente,
Pois vi, despertado,
Que tinha sonhado.

(Manuel Bandeira)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Xadrez

Inesperado era aquele pacote. Curto, seco. Somente com o nome dela escrito de um lado do papel pardo.

Desfez com cuidado o pacote. Dentro havia uma caixinha de madeira de formato pequeno. Na caixa havia um lacre manual, que usando uma das mãos se quebraria de maneira fácil.

Ela ficou receosa ao abri-lo, não que tivesse medo do contéudo, mas tudo já era tão inesperado. Fechou os olhos, abriu a caixa. Viva sobre suas mãos, demorou a olhar seu conteúdo.

Dentro havia uma unica peça, um rei, também feito de madeira. Retirando-o com cuidado, pode notar que embaixo havia também um manuscrito, dobrado diversas vezes para se encaixar lá dentro.

Retirou o papel cautelosamente, leu as poucas palavras dentro dele. “Eu cesso o jogo, derrubo meu rei, tiro-o do tabuleiro deixando em suas mãos. Nessa guerra combatida pelo meu amor e seu desprezo, perdi. E parto agora sem demora, sem uma nota para dizer adeus.”

As lágrimas invadiram seu rosto, não pela forma furtiva como ele fora embora. Mas ela sabia de alguma forma que todos seus amores seriam assim, um eterno jogo arredio de finais descontentes e perdas incotestáveis.
(Thiago)

Você esta tão longe...


"Você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

Nem fale em amor
que amor é isto"


(Paulo Leminski)

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A palavra e o tempo

De tanto o que há para escrever a palavra esquiva-se pela esquina do papel,
a mente cansada não diz o que sente, esconde-se por de traz de uma nuvem incerta.
A boca cala a emoção e os pensamentos vagueiam em contraluz

São silêncios mascarados de sorrisos,
a mente grita e nada diz.

-Por hoje já chega!

insiste o pensamento cansado na procura das palavras certas.

Mas o espírito aprisionado por sentimentos incertos grita libertação,
os dedos pousados no teclado tocam a sinfonia das palavras
que me dita teimosamente o coração.

São raros estes momentos;
é a palavra sentida em plena emoção

A noite vai passando neste frenesi que é a passagem do tempo.
A alma grita, a tristeza solta emoções escondidas
e o tempo passa. A palavra toma forma
e os dedos soletram a raiva escondida,
fragmentos de ilusão.

A frase nasce, os sons das palavras
embalam a esperança renascida.
O tempo para por um momento
nas palmas da minha mão.
As nuvens escuras fogem para longe
formando leitos de espuma branca.
Libertação!

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Ouve

Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso;
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados no vidro da janela
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.

Não toques nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.

Não te lembres, nem esperes.
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.

(Sophia de Melo Breyner)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Vive

"Vive, dizes"

Vive, dizes, no presente:
Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as coisas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras coisas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê.
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.

(Alberto Caeiro, um dos heterônimos de
Fernando Pessoa)

domingo, 6 de fevereiro de 2011

Verdade inventada

“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada... “

(Clarice Lispector)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Tristeza

"Balada da irremediável tristeza"

Eu hoje estou inabitável...
Não sei por quê...
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio...vazio...
Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo...doendo...
A vida está toda atrapalhada...
estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.

Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear...cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus, se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

(Abgar Renault)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Valsa

Fez tanto luar que eu pensei nos teus olhos antigos
e nas tuas antigas palavras.
O vento trouxe de longe tantos lugares em que estivemos,
que tornei a viver contigo enquanto o vento passava.

Houve uma noite que cintilou sobre o teu rosto
e modelou tua voz entre as algas.
Eu moro, desde então, nas pedras frias que o céu protege
e estudo apenas o ar e as águas.

Coitado de quem pôs sua esperança
nas praias fora do mundo...
- Os ares fogem, viram-se as águas,
mesmo as pedras, com o tempo, mudam.

(Cecília Meireles)

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

As lentas nuvens fazem sono


As lentas nuvens fazem sono,
O céu azul faz bom dormir.
Bóio, num íntimo abandono,
À tona de me não sentir.

E é suave, como um correr de água,
O sentir que não sou alguém,
Não sou capaz de peso ou mágoa.
Minha alma é aquilo que não tem.

Que bom, à margem do ribeiro

Saber que é ele que vai indo...
E só em sono eu vou primeiro.
E só em sonho eu vou seguindo.

(Fernando Pessoa)


É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.

(Cecília Meireles)