domingo, 28 de março de 2010

A Miragem
(Vinícius de Moraes)

Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
Inutilmente.
Vieste – tua sombra sem carne me acompanha
Como o tédio da última volúpia.
Vieste – e contigo um vago desejo de uma volta inútil
E contigo uma vaga saudade…
És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
Tu és a agonia de todas as posses
És o frio de toda a nudez
E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.
Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
Eu sinto que me terás como me tinhas no passado
Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
Da miragem.
Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
Num desejo de aniquilamento.
Mas não.
Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
Que estará suspensa e me prometerá água
Embora sabendo que tu és a que foge
Eu me arrastarei para os teus braços.

segunda-feira, 22 de março de 2010

What are you doing the rest of your life?



What Are You Doing the Rest Of Your Life?

(Music by Michel Legrand
lyrics by Alan Bergman and Marilyn Bergman)


I want to see your face in every kind of light
In fields of dawn and forests of the night
And when you stand before the candles on a cake
Oh, let me be the one to hear the silent wish you make
What are you doing the rest of your life?
North and South and East and West of your life
I have only one request of your life
That you spend it all with me
All the seasons and the times of your days
All the nickels and the dimes of your days
Let the reasons and the rhymes of your days
All begin and end with me
I want to see your face in every kind of light
In the fields of dawn and the forests of the night
And when you stand before the candles on a cake
Oh, let me be the one to hear the silent wish you make
Those tomorrows waiting deep in your eyes
In the world of love that you keep in your eyes
I'll awaken what's asleep in your eyes
It may take a kiss or two
Through all of my life
Summer, Winter, Spring, and Fall of my life
All I ever will recall of my life
Is all of my life with you

domingo, 21 de março de 2010

My one and only love


The very thought of you makes my heart sing
Like an April breeze
On the wings of spring
And you appear in all your splendor
My one and only love
The shadows fall and spread their mystic charms
In the hush of night
While you're in my arms
I feel your lips so warm and tender
My one and only love
The touch of your hand is like heaven
A heaven that I've never known
The blush on your cheek whenever I speak
Tells me that you are my own
You fill my eager heart with such desire
Every kiss you give sets my soul on fire
I give myself in sweet surrender
My one and only love
The blush on your cheek whenever
I speak
Tells me that you are my own
You fill my eagle heart with such desire
Every kiss you give sets my soul on fire
I give myself in sweet surrender
My one and only love
My one and only love

(Sting)

Timidez


Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.

Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.
(Cecília Meireles)

sábado, 20 de março de 2010

Per amore


Io conosco la tua strada ogni passo che farai
Ie tue ansie chiuse e ivuoti sassi che allontanerai
Senza mai pensare che come roccia lo rittorno in te ...
Io conosco I tuoi respiri tutto quello che non vuoi
Io sai bene che non vivi
Riconoscerlo non puoi e sarebbe como se
Questo cielo in flamme ricadesse in me
Come scena su un attore ...
Per amore hai mai fatto niente solo
Per amore hai sfidato il vento e urlato mai ?
Diviso il cuore stesso pagato e riscommesso
Dietro questa mania che resta solo mia
Per amore hai mai corso senza fiato
Per amore perso e ricominciato
E devi dirlo adesso quanto de ti ci hai messo
Quanto hai creduto tu in questa bugia
E sarebbe como se questo fiume in piena risalisse a me
Como china al suo pittore
Per amore hai mai speso tutto quanto la regione
I tou orgoglio fino alpianto
Io sai stasera a resto non ho nessun pretesto
Soltando una mania che è ancora forte e mia
Dentro quest'anima che strappi via
E te lo dico adesso sincero con me stesso
Quanto mi costa non saperti mia ...
E sarebbe como se tutto questo mare
annegase in me

sexta-feira, 19 de março de 2010

Fome


Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pêlo
e por estas ruas me vou sem alimento, calado,
não me nutri o pão, a aurora me altera,
busco o som líquido de teus pés neste dia.

Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso silo,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer teu pé como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado em tua formosura,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas sobrancelhas.
e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração quente
como uma puma na solidão de Quitratúe.
(Pablo Neruda)

Morte lenta



"Muere lentamente quien evita una pasión y su remolino de emociones, justamente éstas que regresan el brillo a los ojos y restauran los corazones."
(Pablo Neruda)

quinta-feira, 18 de março de 2010

Vento

O Vento na Ilha
(Pablo Neruda)
Vento é um cavalo:
ouve como ele corre
pelo mar, pelo céu.
Quer me levar: escuta
como ele corre o mundo
para levar-me longe.
Esconde-me em teus braços
por esta noite erma,
enquanto a chuva rompe
contra o mar e a terra
sua boca inumerável.
Escuta como o vento
me chama galopando
para levar-me longe.
Como tua fronte na minha,
tua boca em minha boca,
atados nossos corpos
ao amor que nos queima,
deixa que o vento passesem
que possa levar-me.
Deixa que o vento corra
coroado de espuma,
que me chame e me busque
galopando na sombra,
enquanto eu, protegido
sob teus grandes olhos,
por esta noite só
descansarei,
meu amor.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Rio de Janeiro, Fevereiro, Março...


"




"Corcovado"


Um cantinho e um violão
Este amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar
E ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo
Quero a vida sempre assim
com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente deste mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade meu amor
O que é felicidade, o que é felicidade

(Edison Machado)



quarta-feira, 10 de março de 2010



Estrela da manhã
(Manuel Bandeira)
"Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.

domingo, 7 de março de 2010

Verde









Romance sonâmbulo
(Federico Garcia Lorca)

Verde que te quero verde.
Verde vento.
Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar
e o cavalo na montanha.
Com a sombra pela cintura
ela sonha na varanda,
verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Verde que te quero verde.
Por sob a lua gitana,
as coisas estão mirando-a
e ela não pode mirá-las.


Verde que te quero verde.
Grandes estrelas de escarchanascem
com o peixe de sombra
que rasga o caminho da alva.
A figueira raspa o vento
a lixá-lo com as ramas,
e o monte, gato selvagem,
eriça as piteiras ásperas.


Mas quem virá? E por onde?...
Ela fica na varanda,
verde carne, tranças verdes,
ela sonha na água amarga.
—Compadre, dou meu cavalo
em troca de sua casa,
o arreio por seu espelho,
a faca por sua manta.
Compadre, venho sangrando
desde as passagens de Cabra.
—Se pudesse, meu mocinho,
esse negócio eu fechava.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Compadre, quero morrer
com decência, em minha cama.
De ferro, se for possível,
e com lençóis de cambraia.
Não vês que enorme ferida
vai de meu peito à garganta?
— Trezentas rosas morenas
traz tua camisa branca.
Ressuma teu sangue e cheira
em redor de tua faixa.
No entanto eu já não sou eu,
nem a casa é minha casa.
— Que eu possa subir ao menos
até às altas varandas.
Que eu possa subir! que o possa
até às verdes varandas.
As balaustradas da lua
por onde retumba a água.


Já sobem os dois compadres
até às altas varandas.
Deixando um rastro de sangue.
Deixando um rastro de lágrimas.
Tremiam pelos telhados
pequenos faróis de lata.
Mil pandeiros de cristal
feriam a madrugada.


Verde que te quero verde,
verde vento,
verdes ramas.
Os dois compadres subiram.
O vasto vento deixavana boca
um gosto esquisito
de menta, fel e alfavaca.
— Que é dela, compadre, dize-me
que é de tua filha amarga?
— Quantas vezes te esperou!
Quantas vezes te esperara,rosto fresco,
negras tranças,
aqui na verde varanda!


Sobre a face da cisterna
balançava-se a gitana.
Verde carne, tranças verdes,
com olhos de fria prata.
Ponta gelada de lua
sustenta-a por cima da água.
A noite se fez tão íntima
como uma pequena praça.
Lá fora, à porta,
golpeando,guardas-civis na cachaça.
Verde que te quero verde.
Verde vento. Verdes ramas.
O barco vai sobre o mar.
E o cavalo na montanha.







sexta-feira, 5 de março de 2010

Cativar



E foi então que apareceu a raposa:
- Boa dia, disse a raposa.
- Bom dia, respondeu polidamente o principezinho, que se voltou, mas não viu nada.
- Eu estou aqui, disse a voz, debaixo da macieira...
- Quem és tu? perguntou o principezinho.

Tu és bem bonita...
- Sou uma raposa, disse a raposa.
- Vem brincar comigo, propôs o principezinho. Estou tão triste...
- Eu não posso brincar contigo, disse a raposa.


Não me cativaram ainda.
- Ah! desculpa, disse o principezinho.
Após uma reflexão, acrescentou:
- Que quer dizer "cativar"?
...
- É uma coisa muito esquecida, disse a raposa.

Significa "criar laços..."
- Criar laços?
- Exatamente, disse a raposa.

Tu não és para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos.

E eu não tenho necessidade de ti.

E tu não tens também necessidade de mim.

Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas.

Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro.

Serás para mim único no mundo.

E eu serei para ti única no mundo...

- Minha vida é monótona.

Eu caço as galinhas e os homens me caçam.

Todas as galinhas se parecem e todos os homens se parecem também.

E por isso eu me aborreço um pouco.

Mas se tu me cativas, minha vida será como que cheia de sol.

Conhecerei um barulho de passos que será diferente dos outros.

Os outros passos me fazem entrar debaixo da terra.
O teu me chamará para fora da toca, como se fosse música.

E depois, olha!

Vês, lá longe, os campos de trigo?

Eu não como pão.

O trigo para mim é inútil.

Os campos de trigo não me lembram coisa alguma.

E isso é triste!

Mas tu tens cabelos cor de ouro.

Então será maravilhoso quando me tiveres cativado.

O trigo, que é dourado, fará lembrar-me de ti.

E eu amarei o barulho do vento no trigo...
A raposa calou-se e considerou por muito tempo o príncipe:
- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa.

Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva.

Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada.

A linguagem é uma fonte de mal-entendidos.

Mas, cada dia, te sentarás mais perto...

No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa.

Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz.

Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.

Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada:

descobrirei o preço da felicidade!

Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...
Assim o principezinho cativou a raposa.

Mas, quando chegou a hora da partida, a raposa disse:
- Ah! Eu vou chorar.
- A culpa é tua, disse o principezinho, eu não queria te fazer mal;

mas tu quiseste que eu te cativasse...
- Quis, disse a raposa.
- Mas tu vais chorar! disse o principezinho.
- Vou, disse a raposa.
- Então, não sais lucrando nada!
- Eu lucro, disse a raposa, por causa da cor do trigo.

- Adeus, disse a raposa.

Eis o meu segredo.

É muito simples: só se vê bem com o coração.

O essencial é invisível para os olhos.
- O essencial é invisível para os olhos, repetiu o principezinho, a fim de se lembrar.
- Os homens esqueceram essa verdade, disse a raposa.

Mas tu não a deves esquecer.

Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Já que a vida quis assim....







Eu não existo sem você
Eu sei e você sabe,
já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo
levará você de mim
Eu sei e você sabe
que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso, meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham pra você
Assim como o oceano
Só é belo com luar
assim como a canção
Só tem razão se se cantar

Assim como uma nuvem
Só acontece se chover
Assim como o poeta
Só é grande se sofrer
Assim como viver

Sem ter amor
não é viver
Não há você
sem mim
Eu não existo
sem você

Filho de peixe, peixinho é!

Primeiras fotos do meu rebento...quanto orgulho. Adoro o trabalho dele! O seu olhar é inato. E não é coisa de mãe babona não...Ele leva jeito.










terça-feira, 2 de março de 2010

Faces de Paraty

















Eros e Psiquê



"Conta a lenda que dormia
Uma Princesa encantada
A quem só despertaria
Um Infante, que viria
De além do muro da estrada.



Ele tinha que, tentado,
Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado,
Deixasse o caminho errado
Por o que à Princesa vem.



A Princesa Adormecida,
Se espera, dormindo espera,
Sonha em morte a sua vida,
E orna-lhe a fronte esquecida,
Verde, uma grinalda de hera.



Longe o Infante, esforçado,
Sem saber que intuito tem,
Rompe o caminho fadado,
Ele dela é ignorado,
Ela para ele é ninguém.



Mas cada um cumpre o
Destino
Ela dormindo encantada,
Ele buscando-a sem tino
Pelo processo divino
Que faz existir a estrada.



E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora,
E falso, ele vem seguro,
E vencendo estrada e muro,
Chega onde em sono ela mora,
E, inda tonto do que houvera,
À cabeça, em maresia,
Ergue a mão, e encontra hera,
E vê que ele mesmo era
A Princesa que dormia."
(Fernando Pessoa)