quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Retrato do poeta quando jovem



Há na memória um rio onde navegam
Os barcos da infância, em arcadas
De ramos inquietos que despregam
Sobre as águas as folhas recurvadas.

Há um bater de remos compassado
No silêncio da lisa madrugada,
Ondas brancas se afastam para o lado
Com o rumor da seda amarrotada.

Há um nascer do sol no sítio exacto,
À hora que mais conta duma vida,
Um acordar dos olhos e do tacto,
Um ansiar de sede inextinguida.

Há um retrato de água e de quebranto
Que do fundo rompeu desta memória,
E tudo quanto é rio abre no canto
Que conta do retrato a velha história.

José Saramago

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Sugestão


Sede assim — qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Flor que se cumpre,
sem pergunta.

Onda que se esforça,
por exercício desinteressado.

Lua que envolve igualmente
os noivos abraçados
e os soldados já frios.

Também como este ar da noite:
sussurrante de silêncios,
cheio de nascimentos e pétalas.

Igual à pedra detida,
sustentando seu demorado destino.
E à nuvem, leve e bela,
vivendo de nunca chegar a ser.

À cigarra, queimando-se em música,
ao camelo que mastiga sua longa solidão,
ao pássaro que procura o fim do mundo,
ao boi que vai com inocência para a morte.

Sede assim qualquer coisa
serena, isenta, fiel.

Não como o resto dos homens.

Cecília Meireles

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Até amanhã

Sei agora como nasceu a alegria,
como nasce o vento entre barcos de papel,
como nasce a água ou o amor
quando a juventude não é uma lágrima.

É primeiro só um rumor de espuma
à roda do corpo que desperta,
sílaba espessa, beijo acumulado,
amanhecer de pássaros no sangue.

É subitamente um grito,
um grito apertado nos dentes,
galope de cavalos num horizonte
onde o mar é diurno e sem palavras.

Falei de tudo quanto amei.
De coisas que te dou para que tu as ames comigo:
a juventude, o vento e as areias.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Das folhas que caem


"Nossas vidas são como a respiração,
como as folhas que crescem e caem.
Quando realmente entendermos
sobre as folhas que caem
seremos capazes de varrer os caminhos
todos os dias e nos alegrar com nossas vidas
neste mundo mutável."

(Ajahn Chah - 1918/1992 - monge budista nascido na Tailandia)

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Vácuo

"Se retirássemos da mente humana
as falsas opiniões,
as esperanças vãs,
as avaliações incorretas,
as especulações sem base,
deixaríamos o pensamento de um
número considerável de humanos
num vácuo lamentável."


Francis Bacon, Barão de Verulano

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Não sei onde...


Li um dia, não sei onde,
Que em todos os namorados
Uns amam muito, e os outros
Contentam-se em ser amados.

Fico a cismar pensativa
Neste mistério encantado...
Diga prá mim: de nós dois
Quem ama e quem é amado?...

Florbela Espanca

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Amor e sexo




Amor é um livro
Sexo é esporte
Sexo é escolha
Amor é sorte...

Amor é pensamento
Teorema
Amor é novela
Sexo é cinema..

Sexo é imaginação
Fantasia
Amor é prosa
Sexo é poesia...

O amor nos torna
Patéticos
Sexo é uma selva
De epiléticos...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é para sempre
Sexo também
Sexo é do bom
Amor é do bem...

Amor sem sexo
É amizade
Sexo sem amor
É vontade...

Amor é um
Sexo é dois
Sexo antes
Amor depois...

Sexo vem dos outros
E vai embora
Amor vem de nós
E demora...

Amor é cristão
Sexo é pagão
Amor é latifúndio
Sexo é invasão

Amor é divino
Sexo é animal
Amor é bossa nova
Sexo é carnaval

Amor é isso
Sexo é aquilo
E coisa e tal!
E tal e coisa!

Ai o amor!
Hum! O sexo!

(Rita Lee / Roberto de Carvalho / Arnaldo Jabor)

domingo, 5 de setembro de 2010

Song for you


"I love you in a place where there's no space or time
I love you for my life, cause you're a friend of mine
And when my life is over, remember when we were together
We were alone and I was singin' my song for you ."